A Grande Besta e o Folclore Vampiro
- Alice Gelmini
- 22 de fev.
- 4 min de leitura
Diante de tudo que conversamos até aqui no blog, existe um personagem em comum: a Grande Besta. Conhecido por vários livros como Mega Therion, essa criatura ronda o imaginário de muitos, quiçá todos os vampiros do mundo como um grande mistério da possibilidade de ser uma realidade ou não.
Desde a época da publicação de O Livro dos Rituais de Sangue e Lágrimas por Jacques Gusmán no fim da Idade Média até o histórico lançamento de A Lei em Vermelho por volta de 1770, Mega Therion é uma criatura vastamente debatida e continua a ser algo que causa intensas discussões.
Pelos dois livros citados anteriormente, Mega Therion é a encarnação da entidade do caos, da rebeldia de intensa força opositora da Ordem Natural atual. No livro de Gusmán, ele aponta que "se Mega Therion é uma força opositora intensa, isso significa que temos um polo diferente nos liderando. Este, quem sabe, seja o tal Deus que tanto falam". Esse trecho deixou muitos à época confusos, isso porque, até então, negava-se a existência de Deus entre os vampiros. Entretanto, só muitos anos depois com A Lei em Vermelho foi-se explicado o possível ponto de Gusmán.
Apesar das semelhanças com os escritos bíblicos e das crenças dos cristãos, Mega Therion não é o equivalente ao diabo ou a Satanás, isso de acordo com a crença majoritária dos grupos vampiros, ainda que ainda tenham alguns que se pautam em ideias cristãs estipuladas pela ideia de Deus considerada por Gusmán. Para a maioria, Mega Therion seria mais próximo em sentido de equivalência de Saturno, ou Cronos, da mitologia Grega. Não se trata de uma criatura vil, mas sim de uma criatura necessária para uma Nova Era ser vivida.
É apenas com a volta de Mega Therion que, de acordo com os seguidores destes livros, é possível uma Nova Era ser vivida pelos vampiros e, desta vez, com eles sendo favorecidos pela natureza Divina. Isto é, após longas Eras acentuadas pela evolução e estabilização do humano como dominante, a Nova Era baseada no prestígio voltado à Grande Besta encarnada aponta para uma mudança de paradigmas totalmente radical jamais vista em outras Eras. Começa-se pelo retrocesso da raça humana e ascensão dos vampiros como, então, raça dominante. Isso faria com que, após um grande período de caos tanto para os vampiros como para demais criaturas, a natureza pudesse ser reestabelecida e revitalizada, como em linhas do tempo anteriores.
Mas é possível concretizar a existência da Grande Besta e também a lenda ao seu redor? A resposta é incerta. É verdade que a maioria dos vampiros rejeitam a ideia de uma Besta mor existir, ainda mais de forma tão fantasiosa como é aplicada e tão parecida com diabos de religiões distintas, mas o que conta como ponto da possibilidade de A Lei em Vermelho não ser tão fantasiosa assim são os casos de aglomeração de Besta, isto é, a capacidade absolutamente rechaçada de absorver várias Bestas de outros vampiros. Em alguns grupos, é de bom tom receber a Besta de um ancião antes do mesmo morrer, mas em casos extremos de um vampiro adicto, o consumo de Bestas se torna anormal, imoral e contestável. Nos poucos casos registrados na sociedade vampira, estes vampiros adictos perdem o formato de seu corpo humanoide, perdem a personalidade e agem como uma nova entidade. Isso vai de encontro com os textos de Gusmán e da Lei em Vermelho, que afirmam que a Grande Besta só poderá emergir de um vampiro que aceite ser o "pivot" das Bestas a serem consumidas até que Mega Therion possa por completo se encarnar neste novo depositório.
Diante de toda essa discussão, é impossível dizer se Mega Therion se trata de uma mitologia ou de uma verdade de problemática incalculável para a raça humana futura, se por acaso o time dos crentes vencer um dia. Afinal, seria os casos de aglomeração de Besta uma mera coincidência das passagens do livro e que de nada teriam uso para uma Nova Era, ou será uma evidência daquilo que não só é uma religião, mas sim um propósito de vida constatável? A única verdade que podemos ter em mãos é que a comunidade vampira está dividida neste debate, mas mais favorável à ideia de que, independente do que se relate, a aglomeração não deve ser feita em nenhuma hipótese.
Apesar de desconfortável ter de se alimentar de forma oculta ou seguindo regras rígidas para não ferir humanos, os vampiros possuem em geral um alto índice de ética, e não costumam pensar em humanos como gado para apenas alimento, até porque boa parte dos vampiros contemporâneos estão envolvidos na sociedade em geral e, uma vez incluídos, eles não veem problema de conviver amigavelmente com pessoas de outra(s) espécie(s). Entretanto, é importante reconhecer também que o número de adeptos às ideias de A Lei em Vermelho estão crescendo, em especial nos jovens vampiros, coisa que surpreende os pesquisadores e estudiosos dos Governos de cada distrito vampiro brasileiro e, deve-se destacar também, mundialmente.
Como humana, torço para que as histórias iniciadas por Gusmán sejam apenas mito.

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